A leitura de uma notícia sobre a implantação da República, publicada no próprio dia 5 de Outubro de 1910, pelo antigo jornal O Século, e a audição do Hino Nacional, numa versão gravada em 1912, foram algumas das curiosidades que marcaram a "palestra ilustrada" sobre o centenário da República, que se realizou no passado dia 28 de Maio, na Biblioteca Municipal de Rio Maior. «A Amada Republicana» foi o título desta iniciativa. João Carlos Moreira Rijo, colaborador do REGIÃO it Rb Maier, procedeu à pesquisa que lhe serviu de base e coordenou a apresentação. Os seus amigos António Freire e Maria Alzira Soeiro acompanharam-no como oradores. De uma forma muito sucinta, foram referidos, com projecção de imagens da é-poca, diversos aspectos da história da Primeira Repúbli- ralizada", provocados por várias tentativas armadas de restauração da monarquia, à sangrenta partieipa- Sobre a bandeira, foram exibidas imagens de vários projectos alternativos que na época foram discutidos. Por- António Freire, Maria Alzira Soeiro e Moreira Rijo (depé). ção de Portugal na Primeira Guerra Mundial, e às breves ditaduras lideradas pelo general Pimenta de Castro, em 1915, e pelo major Sidónio Pais, em 1917/18. Estiveram em destaque os símbolos "que desde há cem anos nos acompanham ca, que vigorou em Portugal entre 1910 e 1926. Desde os vários períodos de "guerra civil, mesmo que não gene- e distinguem como cidadãos portugueses", a bandeira, o hino e o busto da República Portuguesa. tugal podia ter hoje uma bandeira muito diferente! Mas Moreira Rijo explicou as ori- Projecto de Joaquim Augusto Fernandes gens da bandeira verde e rubra que foi escolhida e que ainda hoje simboliza Portugal. Não eram apenas as cores do Partido Republicano, desde 1891. Já em 1385 tinham sido essas as cores do estandarte da Ala dos Namorados, que teve um papel fundamental na Batalha de Aljubarrota, um dos acontecimentos mais decisivos da História de Portugal. As cores verde e vermelho foram também utilizadas como símbolo de revolta contra a dinastia espanhola que governou Portugal entre 1580 e 1640. Moreira Rijo assinalou porém que as mesmas cores representavam uma corrente republicana que defendia a unificação entre Portugal e Espanha num único Estado de carácter federal. Em relação ao Hino Nacional, foi evocada a sua origem no ano de 1890. Surgiu como hino de exaltação nacionalista no quadro da contestação, hegemonizada pelo Partido Republicano, contra a cedência, pela monarquia portuguesa ao governo inglês, do domínio colonial do território entre Angola e Moçambique. Aliás, o refrão que conhecemos actualmente como "contra os canhões, marchar, marchar" era originalmente "contra os bretões (ingleses), marchar, marchar". Ao contrário do que aconteceu com os restantes símbolos nacionais, o uso do busto da República foi caindo em desuso, sendo, hoje, raro. Mas quando foi adoptado, em 1912, tornou-se o padrão oficial da imagem da República Portuguesa, sendo usado como efígie nas moedas de escudo e de centavos e colocado nas repartições públicas. A palestra «A Amada Republicana», coordenada por Moreira Rijo, já tinha sido apresentada duas vezes, no ano passado, em Lisboa. Primeiro na Sociedade Portuguesa de Naturalogia, e depois no Grupo Cultural e Desportivo dos Trabalhadores do Grupo Banco Espírito Santo. A sua realização em Rio Maior estava pensada há muito tempo. Mas foi sendo sucessivamente adiada. Até que calhou concretizar-se no passado dia 28 de Maio, precisamente no 85° aniversário do golpe militar que derrubou a Ia República. Moreira Rijo não deixou de realçar a coincidência, apontando os 48 anos "de ditadura militar. Estado Novo e ilusória "Primavera»" que em 1926 se abateram sobre a República Portuguesa, "que só o 25 de Abril de 1974 resgatou para os ideais da Liberdade, da Paz e da Democracia." Houve ainda espaço para a declamação de poemas de Manuel Alegre, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner, Guerra Junqueiro e Ruy Belo - este último apresentado não apenas como um "filho grande deste concelho" mas também como "uma figura maior das letras lusófonas".
Luis Carvalho